Sem expectativa alguma, mas com um sorriso estampado no rosto, convidou aquele cara pra sair. Ele falava, ela sorria. Ela falava, ele sorria. Eles bebiam. Estava acostumada a ouvir que é mais fácil se envolver com quem passou pelas mesmas situações e teve as mesmas desilusões. Não tinha prova. Mas havia encontrado uma, ali.
As mãos entrelaçadas. A respiração alta que costumava ser tão irritante antes dele. O chuvisco da televisão quase que rindo da ironia. O corpo encostando na parede de tão apertado que estava aquele sono. As imaginarias pétalas de flores enfeitando o lençol. Mais tarde, ou mais cedo, os bocejos. O barulho da bolacha de sal quebrando nos dentes de ambos. O abrir e fechar da torneira do banheiro. O estalo do beijo de despedida. E, mais uma vez, as quatro malvadas cabeças.
- Parem já de me encher o saco, cabeças! Dessa vez tem um sabonete derretidinho no banheiro esperando pelo seu dono.
Para Isabel Fogaça.